Em 8 de março de 1917 – há, portanto, exatamente 100 anos –, dezenas de milhares de pessoas tomavam as ruas da então capital russa Petrogrado com uma única e desesperada reivindicação: queremos pão. A partir deste marco inicial, em uma vertiginosa cadeia de eventos ao longo dos oito meses seguintes, um império de dois séculos cairia, uma tentativa de governo democrático seria esmagada por radicais e a primeira revolução comunista da história triunfaria na Rússia.
Na gênese daquela passeata de famintos na cidade que futuramente voltaria a se chamar São Petersburgo estavam os desmandos do czar Nicolau II e seus sucessivos fracassos militares na I Guerra Mundial. No início de 1917, a grande guerra já havia ceifado a vida de mais de um milhão de russos. E, enquanto os soldados morriam no front, suas famílias passavam fome nas cidades.
Em um retrato simbólico do atraso do país, a Rússia estava treze dias atrás do resto do mundo por ainda não ter adotado a transição do calendário juliano para o gregoriano – mudança proposta em 1582 para corrigir uma defasagem entre os dias e as estações do ano. Por causa disso, a Revolução de Fevereiro e a de Outubro aconteceram, na verdade, em março e novembro.