Redação Hypeness - 01/10/2021 | Atualizada em - 11/10/2021
Você já ouviu falar do experimento Universo 25? O etologista (especialista em comportamento animal) John B. Calhoun trabalhou durante toda sua vida para entender o efeito de questões demográficas como a superpopulação no comportamento individual e social de roedores como ratos e camundongos.
O trabalho é considerado um dos mais assustadores da história porque trouxe resultados bizarros e, mesmo repetido diversas vezes, apresentou resultados muito similares. Tudo começou na segundo metade dos anos 1950, quando Calhoun passou a trabalhar no Instituto Nacional de Saúde Mental.
Ele começou a tentar entender quais seriam as principais características para a vida perfeita de ratos. Criou diversos modelos e chegou a um que considerou “perfeito”. Basicamente, ele colocava cerca de 32 a 56 roedores em uma caixa de 12 metros quadrados dividida em quatro cômodos. Os roedores não teriam escassez: diversão, comida e água seriam abundantes no espaço e locais adequados para reprodução e gestação também eram disponibilizados.
Em todos os experimentos, os ratos chegaram a um pico populacional e, posteriormente, entraram em uma crise. Então, conflitos hierárquicos e incidentes de saúde mental acometiam a população de forma generalizada, no que Calhoun cunhou como ralo comportamental. Confira a descrição do autor, dada na Scientific American de 1962, sobre o comportamento social dos ratos durante o ápice demográfico dos seus experimentos.
“Muitas [ratas] eram incapazes de levar uma gravidez até o fim ou, quando conseguiam, de sobreviver ao parir a ninhada. Um número ainda maior, após dar à luz com sucesso, decaia em suas funções maternas. Entre os machos, os distúrbios de comportamento iam desde desvios sexuais até canibalismo e de hiperatividade frenética até um quadro patológico no qual os indivíduos emergiam para comer, beber e se mover apenas quando outros membros da comunidade estivessem dormindo. A organização social dos animais mostrou igual ruptura”, disse no texto.
“A fonte comum desses distúrbios tornou-se mais aparente e dramática nas populações nas primeiras séries de três de nossos experimentos, no qual observamos o desenvolvimento do que chamamos de ralo comportamental. Os animais se aglomeravam em maior número em um dos quatro cercados interligados na qual a colônia era mantida. Até 60 dos 80 ratos em cada população experimental se agregavam em um cercado durante períodos de alimentação. Os indivíduos raramente comiam sem estar na companhia de outros ratos. Como resultado, densidades populacionais extremas se desenvolveram no cercado escolhido para comer, deixando as outras com populações esparsas. Nos experimentos em que o ralo comportamental se desenvolvia, a mortalidade infantil chegava porcentagens de até 96% entre os grupos mais desorientados da população”, afirmava Calhoun.
No ‘Universo 25’, assim chamado por ser a vigésima quinta repetição do processo, os ratos chegaram a uma população de quase 2 mil indivíduos. Uma classe de miseráveis começou a surgir e a grave densidade populacional começou a fazer com que os ratos se atacassem. No dia 560 do experimento, o crescimento populacional cessou e, quarenta dia depois, uma queda na população começou a ser registrada. Logo após disso, os ratos começaram a se matar. A população foi completamente extinta após algumas semanas.
É possível traçar paralelos entre o Universo 25 e a humanidade? Talvez. Densidade populacional pode até ser um problema, mas as estruturas sociais fazem com que as coisas sejam mais complexas para a nossa gente. E ainda que deixemos de existir algum dia, é certo que a explicação não será dada por um experimento com ratos de laboratório.