"Quando abri o bistrô, as pessoas perguntavam: 'Tem comida do imperador? O que Dom Pedro I comia? E a princesa Isabel?'. Eu não fazia a menor ideia do que comiam", contou ela ao veículo.
Foi essa dúvida que deu o pontapé inicial para uma pesquisa realizada em colaboração com o jornalista Edmundo Barreiros.
Juntos, a dupla foi capaz de compilar diversas informações curiosas a respeito da rotina alimentar da família imperial, sendo capaz de transportar o leitor para dentro dos banquetes reais daquela época.
As fontes históricas para o estudo foram, por exemplo, livros de receitas do século 19, anotações feitas pelos mordomos que serviam a família imperial, os cadernos que listavam os itens da despensa, os cardápios que eram elaborados apenas para eles e ainda cartas escritas pela Princesa Isabel em que ela mencionava suas refeições.
Cada um com seus gostos
Alguns dos hábitos alimentares mais excêntricos identificados pelos pesquisadores pertenciam a dom João VI, que era capaz de devorar três frangos inteiros em uma só refeição, e para finalizar ainda comia cinco mangas descascadas de sobremesa.
O rei português, contudo, tinha preferências bem específicas em relação à maneira de preparo da carne que consumia: segundo relatado por ele, ninguém fazia os frangos melhor que seu cozinheiro Alvarenga.
A Princesa Isabel seria outra gulosa da família, embora de maneira diferente.
"Há uma forte influência portuguesa no gosto dela. É alucinada por todos esses doces portugueses. Adora pão-de-ló, chá. É uma figura bem rica para trabalhar com alimentação, pois fala muito de comida", relatou Ana.
Existe ainda uma passagem encontrada em meio às suas correspondências em que a princesa reclama de ser servida "peixe em lata" durante a Quaresma de 1858, alimento que ela diz "não gostar nada".
Dessa forma, Isabel acabou comendo só arroz na manteiga e batatas, episódio que a jovem descreveu como "uma verdadeira penitência", conforme informações repercutidas pela Isto É.
Outra revelação feita pela pesquisa da ex-gerente do Museu Imperial e do jornalista diz respeito aos hábitos de Carlota Joaquina, a esposa de João VI.
"Na Torre do Tombo, em Lisboa, um documento aponta que eram consumidas muitas unidades de aguardente de cana por mês, a maioria destinada ao quarto e à cozinha de Carlota. Ela tomava aguardente misturada com sucos de frutas frescas, pois sofria demais com o calor brasileiro. Tinha necessidade de hidratar o corpo", relatou Roldão à Folha.
A história, porém, é menos simples do que parece a princípio: "Não adianta só dizer que ela era pinguça. No cruzamento de informações, percebe-se que a alimentação das mulheres era carregada nos doces, o que explica [o alto consumo], já que a aguardente era usada para conservar compotas de fruta", explicou a historiadora.
Entre Portugal e o Brasil
Quando veio para o Brasil, Leopoldina, que era esposa de Dom Pedro I, decidiu levar consigo uma série de alimentos na viagem. Assim, ela trouxe todo um carregamento de salmão, feijão-verde, repolho e carne de porco.
Embora a realeza portuguesa tenha prosseguido importando boa parte de sua dieta da terra natal, todavia, eles também se adaptaram às comidas brasileiras. Dom João VI, por exemplo, foi responsável por incluir frutas como a já citada manga e também a goiaba em sua alimentação.
Dom Pedro I, por sua vez, preferia refeições mais simples. Adorava um prato de arroz com feijão e carne de acompanhamento, por exemplo, e com frequência comia na cozinha, junto aos empregados, em vez de unir-se ao salão de jantar, onde era servido o cardápio imperial.
Um dos casos divertidos revelados pela pesquisa de Roldão e Barreiros ocorreu durante uma viagem pelo Brasil em que o imperador chegou antes do restante da comitiva na fazenda que iria recebê-los.
"Sem se identificar, entrou pela cozinha e disse à cozinheira que estava com muita fome. E ela: 'Ó moço, posso dar algo simples, porque estou esperando o imperador'. Ofereceu-lhe arroz, feijão, carne e aguardente. Quando o dono da fazenda entrou, viu o imperador sentado na cozinha, tomando cachaça, comendo a comida dos empregados e rindo", descreveu a historiadora.
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**Errata: A reportagem deu a entender que Leopoldina chegou ao Brasil junto com a família de Pedro I. Na realidade, ela chegaria ao país apenas em 1817.