Dentre estes está, certamente, a trilogia “Fundação, Fundação e Império e Segunda Fundação”, do cientista e escritor judeu-russo-estadunidense Isaac Asimov (1920-1992).
O que de notável traz esta estória? Um mundo futuro, bem distante, que as galáxias tinham governos cibernéticos, projetados numa combinação da psicologia com a matemática (psicohistória); absolutamente controlados, mas onde também surgia o fator surpresa, um dirigente fora dos padrões definidos para aquele universo de certezas.
Hoje, neste século XXI, poucas, se alguma pessoa com mais de dois neurônios, teriam dúvida da quase totalidade do mundo, especialmente o “mundo OTAN”, aquele que se assume cristão-ocidental, ser governada pelo sistema financeiro.
Passou-se o tempo dos embates entre países ou ideologias. Se mencionarmos disputa sino-estadunidense, ela é muito menos entre dois países ou duas ideologias do que a oposição entre a finança nacional da China e finanças globalizantes que dominam os Estados Unidos da América (EUA). E muito poucas nações, como a República Popular da China (RPC), podem se vangloriar de terem controle sobre as suas finanças.
É, portanto, relevante entender esta finança do século XXI.
As finanças começam seu domínio na Inglaterra pré-mercantilista (século XIII), quando o rei precisou dos nobres e estes aprisionaram o monarca com o controle da sua dívida financeira. Vemos, portanto, que as finanças não surgem do árduo labor produtivo, mas da propriedade territorial hereditária. É fruto do oportunismo inteligente de uma aristocracia fundiária. E, mutatis mutandi, assim permanecerá em toda sua história, até o final do século XX.
Esta secular longevidade das finanças explica seu desempenho como o da “Fundação”, de Azimov; com a previsão dos próximos passos, tão longinquamente quanto a tecnologia permitir. E, assim, já ouvi de inteligências brilhantes, que a “redemocratização” brasileira, nos anos 1980, foi projetada no golpe de 1964, para afastar o Brasil do rumo industrializante, colocado pela Era Vargas e prosseguido até por governos militares, pós 1967. Há muito onde comprovar esta tese.
Mas as finanças, das crises na segunda metade do século passado, não previram a desconfortável parceria que as desregulações na década de 1980 lhe trariam. Hoje são os capitais “à vista”, “cash”, muito mais do que os fundiários das dívidas, que estão na sua direção, no comando de boa parte dos empreendimentos financeiros internacionais.
Tanto que fui levado a mudar a denominação abreviada de “banca”, deste sistema financeiro internacional, para a de “gestores de ativos”, como estes capitais estão se apresentando no século atual.
E, como é óbvio, mudaram também as perspectivas de longo prazo dos capitais financeiros para um ganho maior e mais rápido, típico, por exemplo, das drogas, das ações marginais/ilegais que dominam boa parte destes “ativos” sob sua gestão.
Feita esta introdução, vamos entender o golpe que não houve na comemoração de mais outro 7 de setembro, que também nunca existiu: o Brasil continuou, com curtos momentos de exceção, a ser colônia, onde apenas mudam os colonizadores. Ainda aguardamos ter o Brasil Soberano, autônomo, independente.
Um veículo das mídias brasileiras, tradicional representante das finanças fundiárias, colocou na manchete da sua edição de 10 de setembro: “Sob cerco político e econômico, Bolsonaro recua e elogia Moraes”. Para jornal de onde saíram grandes escritores, e mantem elevado padrão jornalístico, embora divorciado dos interesses nacionais brasileiros, esta manchete, com erros inaceitáveis para veículo de comunicação de massa, demonstra que o ponto fora da curva, o “Mulo” do citado romance de Asimov, ainda permanece com poder.
É esta bufonaria que pretendo analisar.
Os açodados interesses das finanças gestoras de ativos levaram ao golpe de 2016. Mas faltou o planejamento característico da banca, o que obrigou a utilizar o capitão de pijama, cujos horizontes eram provincianos, nem mesmo estaduais e muito menos nacionais.
Mas era o que existia e colocaram um parlamentar de décadas em Assembleia e Congresso, sem que tivesse, ao menos, entendido o sentido geral da administração pública. Porém, aproveitando o interesse militar pelo poder perdido em 1985, cooptou parcela das forças armadas a quem distribuiu com elevados ganhos, salariais ou não, pelos órgãos, agências e empresas federais.
Não interviram a tempo as finanças, pois viram um programa de privatizações e de transferências de recursos orçamentários para seus cofres, a justificar o fechamento dos olhos.
O conflito entre os dois poderes paralelos ao estado, do já estabelecido Primeiro Comando da Capital (PCC) paulista e das milícias cariocas, ainda em crescimento, foi antecipado. Não esqueçamos que as finanças do século XXI assimilaram os capitais das drogas, dos contrabandos, das corrupções e de tudo mais que funciona fora das “quatro linhas das constituições”, no Brasil e em todo mundo.
Neste 7 de setembro, os poderes paralelos cuidaram cada um de seus interesses e esta cizânia foi fundamental para a derrota do esperado golpe.
No Rio de Janeiro, o canal de televisão aberta, que se arvora em voz nacional, colocou claramente no noticiário que o pedido de desculpa e sua aceitação se tratava de trégua, não de paz, e muito menos duradoura. O que o Superior Tribunal Eleitoral, pelo seu presidente confirmou: “este é o lugar para compreender o que se passa no mundo”, como quem cobrasse a conta do desembestado movimento, para não sofrer as consequências. E seguiu relacionando os lugares onde ocorrera a “erosão da democracia”.
As finanças mostraram assim que cabe unicamente a elas decidir que pode e quem não pode virar a mesa.
Como os males, na renascentista poesia do espanhol Jorge Manrique (1440-1479), “vêm correndo e quando chegam duram muito mais”, para o povo restou a “disparada da inflação” que levará à alta dos juros, menor atividade econômica, mais desemprego e subemprego, mais fome, doenças e covid.
Isto tem piada?, oh pá! Ou foi só o calor da idade?
Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.