Parmênides (português
brasileiro) ou Parménides (português europeu) de Eleia (em grego clássico:
Παρμενίδης ὁ Ἐλεάτης) (530 a.C. — 460 a.C.) foi um filósofo grego natural de
Eleia, uma cidade grega na costa sul da Magna Grécia. Supostamente de família rica,
seus primeiros contatos filosóficos foram com a escola pitagórica,
especialmente com Ameinias. O único trabalho conhecido de Parménides é um
poema, Sobre a natureza, que sobreviveu apenas na forma de fragmentos. Neste
poema, Parménides descreve duas visões da realidade. Em "O caminho da
verdade" (a parte do poema), ele explica como realidade (cunhado como
"o-que-é").
A mudança é impossível enquanto a existência é atemporal, uniforme, necessária e imutável.
Biografia
Parménides nasceu na colônia grega de Eleia (atual Ascea), de acordo com Heródoto, fundada pouco antes de 535 a.C. Ele era descendente de uma família rica e ilustre. Suas datas são incertas, de acordo com Diógenes Laércio, ele floresceu pouco antes de 500 a.C, o que coloca o ano de seu nascimento por volta de 540 a.C, mas Platão diz que ele visitou Atenas aos 65 anos de idade, quando Sócrates era um homem jovem, c. 450 a.C, que, se for verdade, sugere um ano de nascimento do c. 512 a.C. Ele sugere ainda que Parménides fora aluno de Xenófanes, e independentemente de se eles realmente se conheciam, a filosofia Xenófanes é a influência mais óbvia em Parménides. Diógenes Laércio também descreve Parménides como um discípulo de "Ameinias, filho de Diocaites, o Pitágoras"; mas não existem elementos pitagóricos óbvios em seu pensamento. O primeiro culto do herói de um filósofo que conhecemos foi a dedicação de um heroon por Parménides a seu professor Ameinias em Eleia. Parménides foi o fundador da Escola eleática, que também incluiu Zenão de Eleia e Melisso de Samos. De sua vida em Eleia, dizia-se que ele havia escrito as leis da cidade. Seu discípulo mais conhecido é Zenão de Eleia, que,de acordo com Platão, era vinte e cinco anos mais jovem e foi considerado como seu eromenos. Parménides teve uma grande influência sobre Platão, que não apenas nomeou o diálogo Parménides com o seu nome como também sempre falou dele com grande admiração.
Obra
Hipótese sobre o ano de
nascimento de Parménides e data de composição do seu poema. Desde a antiguidade
considera-se que Parmênides escreveu uma só obra, intitulada Sobre a
natureza. É um poema didático escrito em hexâmetros. A língua em que foi
escrito deriva da expressão épica, utilizada no dialeto homérico.
Datação
O verso 24 do fragmento
1 contém uma palavra que serviu de início a especulações sobre a datação da
composição do poema. Nesse verso, a deusa fala ao destinatário da mensagem,
presumivelmente o próprio Parménides, chamando-lhe κοῦρε (koûre, «jovem»).
Pensou-se que esta palavra faz referência a um homem com idade inferior a
trinta anos e, tendo em conta a sua data de nascimento, podemos colocar a
criação do poema entre 490 a.C. e 475 a.C. Mas objectou-se que a
palavra deve ser entendida no seu contexto religioso: indica a relação de
superioridade da deusa em relação ao homem que recebe a revelação. Guthrie
apoia esta ideia, sustentando-a com uma citação (Aristófanes, Aves 977) na qual
o vocábulo justamente assinala não a idade de um homem (que não é um jovem),
mas a sua situação em relação ao intérprete de oráculos por qual está a ser
interpelado. A sua conclusão é que é impossível dizer em que idade Parménides
escreveu o poema. Eggers Lan, para além de citar outro uso de κοῦρε
(Homero, Il. VI, 59) onde a palavra pode referir não a um homem de trinta anos,
mas a um adolescente, assinala que o menos provável é que o poema tenha sido
composto imediatamente depois da experiência religiosa que relata.
Transmissão textual
O poema de Parménides,
como obra completa, considera-se perdido de maneira irremediável. A partir da
sua composição, foi copiado muitas vezes, mas a última referência à obra
completa deriva de Simplício, no século VI: escreve que esta obra já se havia
tornada rara naquela época (Física, 144). O que nos chega do poema são
citações fragmentárias, presentes nas obras de diversos autores. Nisto
Parménides não se diferencia da maioria dos filósofos pré-socráticos. O
primeiro que o cita é Platão, depois Aristóteles, Plutarco, Sexto Empírico e
Simplício, entre outros. Por vezes um mesmo grupo de versos é citado por vários
de estes autores, e com estes dados os especialistas podem determinar mais
facilmente qual é a cópia que se assemelha mais ao original. Noutras ocasiões a
situação é diferente, e a citação é única. A reconstrução do texto, a
partir da reunião de todas as citações existentes, começou no Renascimento e
culminou com a obra de Hermann Diels, Die Fragmente der Vorsokratiker, em 1903,
que estabeleceu os textos da maioria dos filósofos anteriores a Platão. Nesta obra figuram um total de 19 «fragmentos» presumivelmente originários de
Parménides, dos quais 18 estão em grego e um consiste numa tradução rítmica em
latim. Do poema foram conservados 160 versos. Segundo estimativas de Diels,
estes versos representam cerca de nove décimos da primeira parte (a «via da
verdade»), mais um décimo da segunda (a «via da opinião»).[23] A obra de Diels
foi reeditada e modificada por Walther Kranz em 1934. A edição teve tanta
influência nos estudos que hoje se cita Parménides (assim como aos outros
pré-socráticos) segundo a ordem dos autores e fragmentos desta. Parménides
ocupa ali o capítulo 28, pelo que se citar com a abreviatura DK 28, adicionando
depois o tipo de fragmento (A = comentários antigos sobre a vida e a doutrina;
B = os fragmentos do poema original) e finalmente o número de fragmento (por
exemplo, «DK 28 B 1»). Ainda que esta edição seja considerada canônica pelos
filólogos, têm aparecido numerosas reedições que propuseram uma nova ordem dos
fragmentos, e alguns especialistas, como Allan Hartley Coxon e Néstor Luis
Cordero, realizaram comparações sobre os manuscritos onde se conservam algumas
das citações, e colocaram em dúvida a fiabilidade da leitura e o
estabelecimento do texto de Diels.
A forma de poema épico didático
Muito se tem escrito
acerca da forma poética da sua escrita. Plutarco considerou que era apenas uma
maneira de evitar a prosa, e criticou a sua versificação. Proclo disse
que apesar de utilizar metáforas e alegorias, forçado pela forma poética, a sua
escrita não deixa de ser mais parecido com prosa que com poesia Simplício
da Cilícia, ao qual devemos a conservação da maior parte do texto que chegou
até aos nossos dias, tem uma visão semelhante: não há que se admirar da
aparição de motivos míticos na sua escrita, devido à forma poética que
utiliza.
Para Werner Jaeger, a
escolha de Parménides pela forma de épico didático é uma inovação
significativa. Ela envolve, em primeiro lugar, a rejeição da forma de prosa
introduzida por Anaximandro. Por outra forma, significa um vínculo com a forma
da Teogonia de Hesíodo. Mas o vínculo não afeta apenas a forma, mas também
alguns elementos de conteúdo: na segunda parte do poema de Parmênides
(fragmentos B 12 e 13) aparece o Eros cosmogônico de Hesíodo (Teogonia 120)
juntamente com um grande número de divindades alegóricas como a Guerra, a
Discórdia, o Desejo, cuja origem na Teogonia não se pode colocar em dúvida.
No entanto, há que notar que a colocação destes elementos cosmogônicos na
segunda parte, dedicada ao mundo da aparência, também envolve a rejeição desta
forma de entender o mundo, forma estranha à Verdade para Parménides.
Hesíodo apresentou o
seu poema teogônico como uma revelação procedente de seres divinos. Tinha usado
da invocação às musas, uma convenção épica, o relato de uma experiência pessoal
de iniciação numa missão única, a de revelar a origem dos deuses. Parménides,
no seu poema, apresenta seu pensamento sobre um Ente uno e imóvel como uma
revelação divina, como para derrotar Hesíodo no seu próprio jogo.
Conteúdo
O poema de Parménides
começa com um prefácio de carácter simbólico de que existem 32 versos. Os
primeiros trinta versos foram conservados por Sexto Empírico, que os transmitiu
na sua obra Adversus Mathematicos VII, 111ss. Por sua vez, Simplício da Cilícia
transmite na sua obra de Caelo 557, 25ss, os versos 28 a 32. O prefácio figura
como o primeiro fragmento na recompilação de Diels (DK 28 B 1).
No prefácio, Parménides
descreve a viagem que faz «o homem que sabe»: uma viagem de carro, puxado por
um par de éguas, e impulsionado pelas Helíades (versos 1–10). O caminho por
qual é conduzido, distante do caminho usual dos mortais, é a via da noite e a
via do dia, caminho que é interrompido por um enorme portal de pedra, cuja
guardiã é Dice (deusa da justiça). As filhas do sol persuadem-na, e esta abre a
porta para que passe o carro (vv. 11–21). O narrador é recebido por uma deusa,
cujo discurso, que começa no verso 24, é o conteúdo do resto do poema. Esta lhe
indica, em primeiro lugar, que não foi enviado por um destino funesto, mas pela
lei e pela justiça (vv. 26–28). À luz disto, segue, é necessário que conheça
todas as coisas, tanto "o coração inabalável da verdade persuasiva"
como "as opiniões dos mortais", porque, apesar de que nestas «não
existe convicção verdadeira», no entanto gozaram de prestígio (vv. 28–32).
As vias da indagação
Proclo conserva, em
Timeu I 345, 18–20, dois versos do poema de Parménides, que junto com seis
versos transmitidos por Simplício da Cilícia, em Física, 116, 28–32–117, 1,
formam o fragmento 2 (28 B 2). Aí, a deusa fala de duas «vias de indagação que
se podem pensar». A primeira é expressa da seguinte maneira: «que é, e também,
não pode ser que não seja» (v. 3); a segunda: «que não é, e também, é preciso
que não seja» (v. 5). A primeira via é a «da persuasão», que «acompanha a verdade»
(v. 4), enquanto que a segunda é «completamente inescrutável» ou
«impraticável», visto que «o que não é» não se pode conhecer nem expressar (vv.
6–8).
Um fragmento (B 3)
conservado por Plotino, Enéada V, 1, 8, faz referência a este último: o que tem
que ser pensado é o mesmo que tem que ser.
O pensamento de Parménides
Parménides inaugura
algo radicalmente novo na filosofia ao não considerar os elementos, mas o
abstrato. No seu pensamento, há uma recusa da sensação como meio de chegar à
verdade. Para ele, a sensação é um caminho errado para a investigação, porque
gera contradições e confunde o que existe com o que não existe; o ser com o não
ser.
O seu pensamento está
exposto num poema filosófico intitulado Sobre a Natureza e sua permanência,
dividido em duas partes distintas: uma que trata do caminho da verdade
(alétheia) e outra que trata do caminho da opinião (dóxa), ou seja, daquilo
onde não há nenhuma certeza. De modo simplificado, a doutrina de Parménides
sustenta o seguinte:
Unidade e a imobilidade do Ser;
O mundo sensível é uma ilusão;
O Ser é uno, eterno, não-gerado e imutável;
Não se confia no que vê.
Devido a essas , alguns
veem no poema de Parménides o próprio surgimento da ontologia. Ao mesmo tempo,
o pensamento de Parmênides é tradicionalmente visto como o oposto ao de
Heráclito de Éfeso.
Para alguns estudiosos,
Parménides fundou a metafísica ocidental com sua distinção entre o Ser e o
Não-Ser. Enquanto Heráclito ensinava que tudo está em perpétua mutação,
Parménides desenvolvia um pensamento completamente antagônico: “Toda a mutação
é ilusória”.
Parménides vai então
afirmar toda a unidade e imobilidade do Ser. Fixando sua investigação na
pergunta: “o que é”, ele tenta vislumbrar aquilo que está por detrás das
aparências e das transformações.
Assim, ele dizia:
“Vamos e dir-te-ei – e tu escutas e levas as minhas palavras. Os únicos
caminhos da investigação em que se pode pensar: um, o caminho que é e não pode
não ser, é a via da Persuasão, pois acompanha a Verdade; o outro, que não é e é
forçoso que não seja, esse digo-te, é um caminho totalmente impensável. Pois
não poderás conhecer o que não é, nem declará-lo.”
Numa interpretação mais
aprofundada dos fragmentos de Heráclito e Parménides, podemos achar um mesmo
todo para os dois e esta oposição entre suas visões do todo passa a ser cada
vez menor.
Parménides comparava as
qualidades umas com as outras e as ordenava em duas classes distintas. Por
exemplo, comparou a luz e a escuridão, e para ele essa segunda qualidade nada
mais era do que a negação da primeira.
Diferenciava qualidades
positivas e negativas e, esforçava-se em encontrar essa oposição fundamental em
toda a Natureza. Tomava outros opostos: leve-pesado, ativo-passivo,
quente-frio, masculino-feminino, fogo-terra, vida-morte, e aplicava a mesma
comparação do modelo luz-escuridão; o que corresponde à luz era a qualidade
positiva e o que corresponde à escuridão, a qualidade negativa. O pesado era
apenas uma negação do leve. O frio era uma negação do quente. O passivo uma
negação ao ativo, o feminino uma negação do masculino e, cada um apenas como
negação do outro.
Por fim, nosso mundo
dividia-se em duas esferas: aquela das qualidades positivas (luz, quente,
ativo, masculino, fogo, vida) e aquela das qualidade negativas (escuridão,
frio, passivo, feminino, terra, morte). A esfera negativa era apenas uma
negação da esfera positiva, isto é, a esfera negativa não continha as
propriedades que existiam na esfera positiva.
Ao invés das expressões
“positiva” e “negativa”, Parménides usa os termos metafísicos de “ser” e
“não-ser”. O não-ser era apenas uma negação do ser. Mas ser e não-ser são
imutáveis e imóveis. No seu livro: Metafísica, Aristóteles expõe esse
pensamento de Parménides: “Julgando que fora do ser o não-ser é nada,
forçosamente admite que só uma coisa é, a saber, o ser, e nenhuma outra... Mas,
constrangido a seguir o real, admitindo ao mesmo tempo a unidade formal e a
pluralidade sensível, estabelece duas causas e dois princípios: quente e frio,
vale dizer, Fogo e Terra. Destes (dois princípios) ele ordena um (o quente) ao
ser, o outro ao não-ser.”
O Vir-a-Ser
Quanto às mudanças e
transformações físicas, o Vir-a-Ser, que a todo instante vemos ocorrer no
mundo, Parménides as explicava como sendo apenas uma mistura participativa de
ser e não-ser. “Ao vir-a-ser é necessário tanto o ser quanto o não-ser. Se eles
agem conjuntamente, então resulta um vir-a-ser”.
Um desejo era o fator
que impelia os elementos de qualidades opostas a se unirem, e o resultado disso
é um vir-a-ser. Quando o desejo está satisfeito, o ódio e o conflito interno
impulsionam novamente o ser e o não-ser à separação.
Parménides chega então
à conclusão de que toda mudança é ilusória. Só o que existe realmente é o ser e
o não-ser. O vir-a-ser é apenas uma ilusão sensível. Isto quer dizer que todas
as percepções de nossos sentidos apenas criam ilusões, nas quais temos a
tendência de pensar que o não-ser é, e que o vir-a-ser tem um ser.
O Ser-Absoluto
Toda nossa realidade é
imutável, estática, e sua essência está incorporada na individualidade divina
do Ser-Absoluto, o qual permeia todo o Universo. Esse Ser é onipresente, já que
qualquer descontinuidade em sua presença seria equivalente à existência de seu
oposto – o Não-Ser.
Esse Ser não pode ter
sido criado por algo pois isso implicaria em admitir a existência de um outro
Ser. Do mesmo modo, esse Ser não pode ter sido criado do nada, pois isso
implicaria a existência do “Não-Ser”. Portanto, o Ser simplesmente é.
Simplício da Cilícia,
em seu livro Física, assim nos explica sobre a natureza desse Ser-Absoluto de
Parménides: “Como poderia ser gerado? E como poderia perecer depois disso?
Assim a geração se extingue e a destruição é impensável. Também não é divisível,
pois que é homogêneo, nem é mais aqui e menos além, o que lhe impediria a
coesão, mas tudo está cheio do que é. Por isso, é todo contínuo; pois o que é
adere intimamente ao que é. Mas, imobilizado nos limites de cadeias potentes, é
sem princípio ou fim, uma vez que a geração e a destruição foram afastadas,
repelidas pela convicção verdadeira. É o mesmo, que permanece no mesmo e em si
repousa, ficando assim firme no seu lugar. Pois a forte Necessidade o retém nos
liames dos limites que de cada lado o encerra, porque não é lícito ao que é ser
ilimitado; pois de nada necessita – se assim não fosse, de tudo careceria. Mas
uma vez que tem um limite extremo, está completo de todos os lados; à maneira
da massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio a partir do centro, em todas
as direções; pois não pode ser algo mais aqui e algo menos ali.”
O Ser-Absoluto não pode
vir-a-ser. E não podem existir vários “Seres-Absolutos”, pois para separá-los
precisaria haver algo que não fosse um Ser. Consequentemente, existe apenas a
unidade eterna.
Teofrasto relata assim
esse raciocínio de Parménides: “O que está fora do Ser não é Ser; o Não-Ser é
nada; o Ser, portanto, é.
Fonte: wikipedia
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