Que a sacanagem sempre moveu o mundo todos nós sabemos: nossa existência, inclusive, já é uma prova cabal disso. Mas até mesmo o rei das casas de massagens poderia se sentir um pouco encabulado ao explorar o complexo de templos com esculturas eróticas de Khajuraho, uma pacata vila rural situada no estado de Madhya Pradesh, região central da Índia.
Apenas 10% do cenário visto hoje é composto pelas esculturas de elaboradas peripécias sexuais, situação que poderia ser diferente se o curso da História fosse outro. Os templos de Khajuraho foram construídos durante o mandato da dinastia Chandela, entre os anos de 950 a 1050, ou seja: um século de muito cinzel na pedra para erguer um composto de 85 templos dedicados ao hinduísmo e jainismo, que na época, ocupavam em conjunto uma área de 20 quilômetros quadrados. A feroz invasão muçulmana na Índia, durante o século XIII e perpetuada até o século XVIII, fez com que diversas construções da cidade fossem destruídas, talvez por intolerância à idolatria de outras religiões ou por puro recalque sexual. Fato é que o tempo foi passando, o mato foi crescendo e pouco a pouco, Khajuraho foi ficando negligenciada e perto de ser fatalmente esquecida. Até que em 1838, o oficial britânico TS Burt resolveu capinar o lote e desvelar ao mundo as vergonhas desavergonhadas dos vinte templos sobreviventes, que hoje podem ser vistos pela bagatela de 250 rupias (cerca de 5 dólares).
O sítio arqueológico de Khajuraho é tombado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, mas os ávidos visitantes geralmente rumam para os templos localizados no complexo Oeste. Em sua maioria, os templos são homenagens aos deuses Hindus, e as intrincadas esculturas milimetricamente trabalhadas recontam histórias de costumes, batalhas consagradas, e, claro, recordações safadonas de práticas tântricas de outrora, considerando que o sexo no Hinduísmo é visto como parte essencial à vida humana, ao permitir uma união maior com o Universo.
O templo de Kandariya-Mahadev é o maior de toda Khajuraho e é nele que estão a maioria das representações eróticas. Basta olhar cerca de 1 metro acima para começar a ver posições que deixariam qualquer acrobata do Cirque du Soleil no chinelo.
Há quem diga por aí que a inspiração pra tanta peripécia sexual foi através do livro Kamasutra. No entanto, não há nenhuma correlação oficial entre a dinastia Chandela e o livro escrito pelo estudante celibatário (!!!) Vatsyayana , durante o século IV. De qualquer forma, as mais variadas posições sexuais entre duas, três ou quatro pessoas (e rola uns animais também) são intrigantes e quase hipnotizam. As maiores testemunhas dos risinhos sem-vergonha dos turistas são os guardinhas dos templos, que parecem te olhar com aquela cara de “eu sei o que você está pensando”.