:: Rubia A. Dantés ::
De tempos em tempos, volto a
aprender alguma coisa com a arrumação dos armários... e, dessa vez, não foi
diferente. Quando resolvi tirar tudo do lugar para me desfazer de algumas
coisas que guardo, assim meio por guardar, surpreendi-me com uma percepção que
tive que veio acompanhada de um sentimento de não dar conta...
Percebi que acumulava muita coisa
porque não sabia o que fazer com elas e que, chegou a um ponto, onde meu
armário estava abarrotado de coisas que guardava para adiar uma tomada de
decisão.
Claro que isso bateu mais
profundo e me revelou coisas que não eram ainda tão claras para mim como se
tornaram a partir de então...
Naquelas partes de cima, onde a
gente guarda o que não usa... e que acaba se esquecendo que um dia guardou...
encontrei coisas das quais nem me lembrava que tinha, mas, ao me deparar com
algumas delas, percebi que tinha uma certa dificuldade de me desapegar e de
resolver o que fazer com elas.... algo aparentemente simples, mas que me
causava um incômodo e uma falta de energia. Me lembrei que, de outras vezes,
preferi adiar a decisão e deixá-las mais um pouco guardadas...
Como tinha muito espaço
disponível, fui deixando-as ali... não usava, nem queria dispor delas... Quanto
mais espaço, mais coisas desse tipo ia acumulando...
Mas, dessa vez, resolvi olhar de
frente para tudo que ainda está pedindo por solução... por desapego... e
resolvi esvaziar meus armários. Não pensem que está sendo fácil, vejo que
quando chega um ponto, tenho dificuldade de continuar e num impulso me dá
vontade de voltar com tudo e adiar mais um pouco essa arrumação.
Só que dessa vez, essa arrumação
veio como parte de uma decisão profunda que fiz de mudar as coisas que não
quero mais e que, por ter me acostumado com elas, fica difícil desapegar.
Rotinas... pontos de vista...
escolhas que me prendem onde é mais cômodo e conhecido... e mais um monte de
coisas que usamos para criar um casulo acolhedor e familiar onde podemos nos
mover até o limite do conhecido... e só...
Mas, tem horas que esse casulo
fica pequeno demais e apertado demais... e o aperto acaba tirando nosso ar...
Parece que minha Alma está dando um ultimato... ou você sai do casulo ou ele a
sufoca.
E optei por sair do casulo... e
na arrumação dos armários foi onde eu vi partes minhas que, por apego ou
medo... preferiam adiar do que resolver as coisas.... e decidi que não vou
guardar nada por comodidade só para não ter que encarar de frente e escolher o
que precisa ser feito aqui e agora...
E quando uma decisão profunda lhe
move e você ultrapassa aquele ponto que sempre a fazia voltar atrás e deixar
para depois... guardando o passado mais uma vez, você percebe que o obstáculo
que parecia enorme era só um grãozinho de areia, mas, quando encarado de frente
e removido lhe mostra que você pode ser muito mais forte e corajosa do que
imaginou... e vê então que, o que a prendia ao passado era um tênue fio de
ilusão...
Prendemo-nos de várias formas,
umas visíveis... outras não... e as mais sutis são talvez as mais difíceis,
porque se tornam grades aparentemente preciosas que podem parecer muito
acolhedoras para serem abandonadas...
Mas, tudo que prende e limita
costuma ocupar o espaço da felicidade...
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