Um retrato da misteriosa e
obstinada soberana e sua busca pelo conhecimento
Como todo mito, a história da Rainha de Sabá possui inúmeras versões. Sabe-se que foi uma célebre soberana do antigo Reino de Sabá no século X a.C. A localização deste reino pode ter incluído os atuais territórios da Etiópia e do Iêmen. A parte conhecida de sua história está relatada no Velho Testamento, datadas no século 6 d.C., e em um dos livros de Talmudu (coletânea das tradições orais judaicas). No Alcorão (livro sagrado muçulmano) encontramos referência à suposta cidade natal da Rainha, Marid. Dentre todos os relatos a respeito da Rainha de Sabá, o mais conhecido é o da Etiópia, o Kebra Nagast, do século 11 a.C. Segundo esse documento, ela teria assumido o trono com apenas 15 anos de idade, após a morte do pai.
Conhecida entre os povos como
Makeda (Etiópia), Balkis ou Bilkis (povos islãmicos) ou Nicaula (designação
dada por Flavio Josefo, historiador romano de origem judaica) esta Rainha
recebeu diferentes nomes ao longo dos tempos. Para o Rei Salomão de Israel, no
entanto, ela era “somente”, a “Rainha de Sabá”. Supostamente, ela seria uma
descendente de Noé, mas a dúvida que persiste é se ela seria uma ancestral dos
hamitas ¹ ou semitas².
Descobertas arqueológicas mais
recentes apoiam a tese de que a Rainha de Sabá teria governado uma parte da
Arábia Meridional, com evidências de que a área seria a capital do reino de
Sabá.
Segundo relatos, em Sabá as
mulheres e os homens possuíam praticamente os mesmos direitos (o que era comum
nas nações kushitas, geralmente governadas por mulheres), a única coisa que
fazia a diferença em seus direitos era a determinação religiosa da Rainha
manter-se virgem. Como uma serva fiel dos costumes de seu povo, Makeda aceitou
conformada. Como o posto a obrigava manter o celibato, decidiu dedicar-se ao
estudo da filosofia e do misticismo. Seu governo foi próspero, graças à farta
colheita, que era estimulada por avançadas técnicas de irrigação, e à
localização privilegiada de seu reino. Sabá era um tradicional ponto de
comércio, atraindo mercadores vindos de todos os lugares. Vendia-se e
comprava-se de tudo pelas pequenas ruas do reino, em especial mercadorias
oriundas do Oriente. Como gostava de circular em meio ao tumulto do comércio,
conversando com os viajantes, ficou sabendo da existência do Rei Salomão pelo
chefe das caravanas reais, Tamrim.
De acordo com a Torá (o livro
sagrado dos Judeus) e o Velho Testamento, ela teria ficado curiosa com os
relatos sobre a grande sabedoria do rei de Israel, e possuidora ela, também, de
grandes conhecimentos, teria viajado até ele com presentes de especiarias,
ouro, pedras preciosas, e belas madeiras, pretendendo testá-lo com suas
perguntas. Tudo isto está relatado no
Livro de Reis (10:1-13) e no Segundo Livro de Crônicas (9:1-12).
A comitiva, segundo as
narrativas, tinha 800 animais e, apesar da curta distância, a viagem durou seis
meses. Chegando à Jerusalém, a Rainha se dirigiu ao palácio, trajando roupas
caras, coberta de joias e seguida por dezenas de servos. Logo que foi recebida,
divertiu-se testando a sagacidade de Salomão, muito culta e bem-humorada, ela
confrontou-o com inúmeras charadas. O Rei, honrando a fama, não deixou nenhuma
pergunta sem resposta.
Por sua vez, Salomão pregou a
ideologia e os valores de sua religião, o Judaísmo, e conquistou mais uma
adepta. Como um grande galanteador, ele também cortejou a visitante. Ao que
parece, a Rainha ficou seduzida pelos dotes intelectuais de Salomão e sua
imensa riqueza. Motivos que levam a crer que eles tenham tido um romance.
Segundo alguns textos, mesmo tendo feito o voto de castidade, a Rainha de Sabá,
em sua primeira noite no palácio, não resistiu ao charme de Salomão e se
entregou a ele. Permanecendo meses na companhia do governante, teria retornado para
casa grávida do amado. Num destes textos, o Kebra Negast (“Glória dos Reis”),
escrito por volta de 700 anos a. C., narra-se que realmente Rei Salomão teria
seduzido a Rainha de Sabá e tido com ela um filho, Menelik I, que se tornaria o
primeiro imperador da Etiópia, com o título de “Rei dos Reis” e iniciado,
assim, a Dinastia Salomônica. Esta dinastia governaria este país por três mil
anos, que só se encerrariam com a subida do Imperador Haile Selassie, em 1974.
E, apesar de não haver sinais
deste fato nos relatos bíblicos, nas crônicas etíopes isto é dado como certo,
inclusive havendo relatos de que a família real da Etiópia se originou de um
descendente da Rainha de Sabá com o rei Salomão. Supostamente, esta Rainha
seria uma espécie de Candance, título dado a uma linhagem de rainhas guerreiras
do reino kushita de Meroé, no sul do Egito. É importante esclarecer que na
Antiguidade, o termo Etiópia era utilizado para denominar a região onde se
situavam os povos negros do continente africano, o que poderia se referir à
Núbia do sul de Egito e ao Sudão. De acordo com o historiador Flavio Josefo, a
Rainha de Sabá foi uma soberana que visitou o Rei Salomão em Jerusalém, no
antigo reino de Israel, e foi identificada como sendo “Rainha do Egito e da
Etiópia”. Para o pintor Giovanni
Boccaccio, que segue o exemplo de Josefo ao chamar a rainha de Sabá de Nicaula,
ela não só era Rainha da Etiópia e do Egito, como também da Arábia, e que
relatos afirmavam que ela tinha um palácio luxuoso numa “ilha muito grande”
chamada Meroe (o que está de acordo com a versão de que ela era uma Candance),
localizada em algum lugar próximo ao rio Nilo. Boccacio expressa sua visão do
encontro de Nicaula com o Rei Salomão em sua obra “Sobre as mulheres famosas”.
Outra teoria põe a Rainha de Sabá
como uma descendente de Alexandre, o Grande, rei macedônico que dominou grande
parte do mundo conhecido na antiguidade, um império que ia dos Balcãs à Índia,
incluindo também o Egito e a Báctria (aproximadamente o atual Afeganistão).
Para a monarquia etíope, a
linhagem salomônica e sabaítica tem considerável importância política e
cultural. A Etiópia foi convertida ao cristianismo pelos coptas do Egito, e a
Igreja Copta lutou por séculos para manter os etíopes numa condição de
dependência e subserviência fortemente ressentida pelos imperadores etíopes.
Mencionada no Alcorão, texto religioso central do Islã,
numa citação muito similar à da Bíblia, ela é vista como a soberana de um reino
cujo povo venerava o Sol, o que despertou a curiosidade do Rei Salomão que mandou
convidá-la a conhecer seu reino e a discutir a suposta divindade do Rei. De acordo com o relato, a Rainha teria ficado
impressionada por sua sabedoria, louvando sua divindade e, posteriormente,
aceitou o monoteísmo abraâmico.
Além de sua menção na Torá e no
Alcorão, a Rainha de Sabá é mencionada no
Velho Testamento, onde é chamada de Rainha do Sul, e no Novo Testamento,
quando Jesus Cristo indica que ela será uma dos responsáveis pelo julgamento
dos que o rejeitaram. Nessa passagem supõe-se uma possível aura de divindade
desta Rainha. O próprio Jesus a elogiou ao ver o seu esforço em vir de tão
longe para conhecer a sabedoria de Salomão. Em Mateus 12:42, Ele disse que ela
“… veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão.”
Metaforicamente, algumas interpretações
colocam a sua visita a Salomão como algo análogo ao cristianismo, tendo o Rei
como o Messias, detentor do conhecimento e da luz e a Rainha representando os
gentios, aqueles que desconhecem, mas buscam a verdade. Observando esta mulher
decidida que queria conhecer Salomão e, provavelmente, queria aprender com sua
sabedoria instintivamente, pode-se reconhecer mulheres que almejam ser
decididas, corajosas e sábias. E, realmente, esta Rainha provou ser uma mulher
determinada, pois não se preocupou com o cansaço a fim de que pudesse alcançar
seu objetivo. Nem com a distância, embora, provavelmente, tivesse que viajar
meses e muito menos se preocupou com quanto iria gastar com os presentes que
ela estaria levando para o Rei Salomão – muito ouro, especiarias e pedras
preciosas.
Prof. Luiz Claudio Ferreira Souza
Notas
¹ Povos africanos que pertencem à
raça caucasoide, originária da Europa. São chamados afro-mediterrâneos por
causa de suas características físicas e da região em que vivem. A maioria dos
hamitas é alta e possui nariz pequeno e pele amorenada.
Vivem, principalmente, no leste,
norte e nordeste da África, região que compreende partes da Etiópia, do Saara e
do Sudão.
Os antigos egípcios eram hamitas.
Entre eles estão os bejas, berberes, fulas, galas e somalis. As línguas faladas
pelos hamitas têm sido chamadas de hamíticas e pertencem ao grupo cuchítico das
línguas afro-asiáticas.
² A origem da palavra semita vem
de uma expressão no Gênesis e referia-se a linhagem de descendentes de Sem,
filho de Noé
Referências
http://www.arcauniversal.com/mundocristao/series/noticias/mulheres-da-biblia-a-rainha-de-saba-8051.html - Consulta feita dia 17/06/2013 às 19:00 hs
http://www.infoescola.com/biografias/rainha-de-saba/
– Consulta feita dia 17/06/2013 às 19:00 hs
http://www.klickeducacao.com.br/2006/enciclo/encicloverb/0,5977,POR-4108,00.html – Consulta feita dia 16/06/2013 às 18:00 hs
http://www.triada.com.br/cultura/historia/aq180-245-1011-1-quem-foi-a-rainha-de-saba.html
– Consulta feita dia 16/06/2013 às 15:00 hs
http://www.Wikipédia.org –
Consulta feita dia 17/06/2013 às 19:00 hs
http://www.cienciasparalelas.com.br/?p=1526